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Sabiá laranjeira

Eu ia descalço para a escola com um embornal de pano branco, feito de saco de farinha alvejado. Dentro iam os cadernos e lápis de cor misturados com bolas de vidro, pedregulhos arredondados, o livro de lições com histórias sem fim, alguns selos usados, uma laranja ribeirão, amarela como ouro e adocicada. Às vezes leava um pedaço de goiabada embrulhado na palha de milho. Alguns levavam lanches de mortadela ou pedaços de queijo. Antes de entrar na classe fazia ginástica - respirar, abrir os braços e expirar, cantávamos o Hino Nacional e seguíamos em fila dupla para a classe, onde cada um tinha a sua carteira - um banco de madeira com uma tábua lisa onde ficava o tinteiro, que era um depósito de vidro fechado por uma peça de metal. As aulas eram monótonas e longas e a gente não via a hora do recreio, onde a conversa corria solta. Era ali, no recreio, que os meninos se misturavam com as meninas e trocavam olhares. Depois, mais aula e a saída em algazarra pela rua, prelibando a hora de tirar as botinas, pegar o velho e estimado estilingue, caçar aquele raro sabiá laranjeira, sair para conquistar o mundo e, quem sabe, talvez, encontrar numa esquina qualquer aquela menina loira de tranças compridas da outra classe?

Juvenil de Souza avisa - prelibar é gozar por antecipação.
Hoje, joga iscas ao vento, pescador de paixões não correspondidas.


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