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Tempos negros

Naquele tempo a gente não esquecia nada, a memória era afiada como navalha e atualmente esquecemos de tudo, ainda mais agora com essa doença insidiosa que vai nos deixando fracos e perrengues.
É remédio de hora em hora, comida fraca de enfermaria, urinol em baixo da cama, suores frios á noite e uma baita duma dor na barriga que parece que vai estourar. Quero pedir desculpas aos poucos leitores pelas falhas naquilo que escrevemos, porque, de verdade, a memória parece que vai embora, vai sumindo aos poucos como se fosse até a porteira Preta, depois para a fazenda Amália, rio Pardo, Cajuru, e vai sumindo a cada respirada mais funda que damos. E o corpo também não responde a nada, inerte na cama, sonhamos partidas de futebol, gritos da torcida, um jogo de bolinha de vidro, a bicicleta quebrada e de pneu furado, o dia em que a bola de capotão furou na cerca de arame farpado, a briga com o moleque na rua, sorvetes de gosto inesquecível, um olhar de repente na tarde quente.
Mas o que a gente vislumbra daqui do quarto frio, soro nas veias doloridas é uma janela fechada com uma cortina puída e ouvimos um aparelho batendo como um relógio acabando a corda.tic...tic...tic

Juvenil de Souza não é mais aquele.

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