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Berra o boi

A gente passava os dias no matadouro
para ver matar boi, nadar no poço,
catar macaúba e pescar de lóca. A matança
era um espetáculo cruel e feio,
mas a gente assistia todo dia, sempre
torcendo pelo boi. O dia da matança era
geralmente na sexta feira. Os matadores
chegavam com suas facas afiadas, serras
e camisas de manga comprida para
cumprir o dever. O boi, que até então
pastava e ruminava manso, se arrepiava
e adivinhava seu destino. Desconfiado,
mugindo rouco, babando e resistindo,
era laçado pelo chifre e arrastado com
um laço forte apoiado num moirão. Passava
por um corredor estreito de tábuas
enegrecidas pelo uso e não tinha escapatória.
De cima da cerca de tábuas, o
açougueiro “chupeava” o pescoço do
animal que soltava um gemido, estremecia
e desabava sobre um carrinho que
corria sobre trilhos. O açougueiro dava
o golpe fatal cortando as veias intumescidas
e grossas do pescoço. O sangue
se esvaía pelo ralo, o animal era levado
para dentro, levantado por uma talha
de corrente e imediatamente descarnado,
sobrando os ossos e os miúdos que
naquele tempo ninguém comia. A gente
se divertia com a bexiga do boi e comia
o fígado cortado ao meio e assado na
chapa do com sal grosso de curtir couro
do boi. A gente comia como índios dentes
na carne saborosa e ensangüentada.
Era um mundo real, duro e cruel, onde
a gente aprendeu a ver a morte como
coisa natural.

Juvenil de Souza vai fundar a Associação dos ProtetoresAnônimos dos Bêbados e Alcoólatras.

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