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Finados e morte

A entrada do cemitério era pela Sete
de Setembro, dando frente por aquela
ruela que vinha do campo de futebol,
passando em frente à casa do Casqueiro,
que teve morte violenta e que apavorou
a cidade. Era uma entrada com
túmulos com estátuas de santos, anjos
e querubins de mármore luxuosos e ricos.
Do lado de fora, a alegria eram as
jabuticabas vendidas a litro, as fatias de
melancia, uma feira variada e colorida.
O pessoal que morava na zona rural e
na fazenda Amália vinha para a cidade
e os bares lotavam de crianças chorando,
nariz entupido de ranho, tomando
guaraná, comendo sanduíche de mortadela,
agarrando a barra do vestido das
mães, fazendo pirraça e homens bebendo
uma misturada ou pinga pura, ninguém
pensava em cerveja, que chegava
em sacos de estopa, embrulhadas em
cone feitos de caules de arroz. De São
Simão vinham o ceguinho cantor, cara
de Noel Rosa, e sua mãe, recolhendo esmolas.
Ele cantava músicas tristes acompanhado
de um violão, todo arruinado
pelo uso. A praça da Matriz ficava lotada,
gente, cavalos amarrados na calçada
e vendedores ambulantes anunciando
novidades. Na verdade, era uma festa
na qual os mortos pouco importavam,
embora fossem o motivo principal da
reunião colorida. Nunca mais fomos lá
depois que viemos para a cidade distante
e não deixamos nenhum morto a esperar
lágrimas e flores saudosas. Deve ter
mudado, como tudo muda. Mas no caso,
com finados, ou sem, todos os cemitérios
são iguais.

Juvenil de Souza tem pavor
da morte. E ainda acredita
em alma do outro mundo
puxando sua perna de noite.


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