
A mãe preparava a comida tradicional de fim de ano, avental branco, sorriso manso e quieto, sempre mexendo na panela de ferro no fogão de lenha, semblante alegre de ver todos juntos mais uma vez. Aí chegava aquele amigo meio bêbado que bebia mais e dormia escornado no sofá da sala; vinha outro com seu violão e cantava valsas tristes e românticas tentando conquistar uma namorada. Com as primas e primos a gente aprendia a dançar, dois pra lá, dois pra cá. O pai ia dormir, a mãe limpava tudo, tias e tios conversavam sobre receitas, doenças, e era mais um ano que passava.
Hoje não tem mais mesa, comida, reunião, valsas doloridas, festa, pai, mãe, tios, irmãos, primos e primas. E não há mais ninguém, absolutamente mais ninguém.
Restou apenas a gente de ressaca sentado nessa mesa de bar falando com uma garrafa meio cheia, meio vazia, nessa cidade de pessoas distantes e desconhecidas.
Juvenil de Souza pretende fundar uma ONG, a APBODE, Associação Protetora dos Bêbados,
Órfãos e Desamparados. As inscrições estão abertas.
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