English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Mais um ano, menos um ano!

Na verdade a gente queria que todos estivessem juntos em torno da velha mesa de tábuas gastas e lixadas por cotovelos e mãos, o avô na cabeceira na cadeira alta, pigarreando e reclamando da demora em servir a comida. Do lado direito o pai severo e sereno, saboreando sua comida preferida; do lado esquerdo o tio mais velho, cabelos branqueando, e ao lado as tias queridas; os irmãos e irmãs mais novas, a molecada correndo em volta da mesa, tropeçando nas cadeiras provocando pitos e xingamentos.
A mãe preparava a comida tradicional de fim de ano, avental branco, sorriso manso e quieto, sempre mexendo na panela de ferro no fogão de lenha, semblante alegre de ver todos juntos mais uma vez. Aí chegava aquele amigo meio bêbado que bebia mais e dormia escornado no sofá da sala; vinha outro com seu violão e cantava valsas tristes e românticas tentando conquistar uma namorada. Com as primas e primos a gente aprendia a dançar, dois pra lá, dois pra cá. O pai ia dormir, a mãe limpava tudo, tias e tios conversavam sobre receitas, doenças, e era mais um ano que passava.
Hoje não tem mais mesa, comida, reunião, valsas doloridas, festa, pai, mãe, tios, irmãos, primos e primas. E não há mais ninguém, absolutamente mais ninguém.
Restou apenas a gente de ressaca sentado nessa mesa de bar falando com uma garrafa meio cheia, meio vazia, nessa cidade de pessoas distantes e desconhecidas.

Juvenil de Souza pretende fundar uma ONG, a APBODE, Associação Protetora dos Bêbados,
Órfãos e Desamparados. As inscrições estão abertas.



Próxima crônica
Voltar à página anterior