English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Gran circo das bailarinas

O Gran Circo Merenciano foi o menor
e mais pobre circo que já aportara
na cidade, Tinha vindo para ficar alguns
dias, não deu muita bilheteria e os artistas,
mata-cachorros e equilibristas cortavam
cana de dia e brilhavam a noite. Era
paupérrimo, lonas esfarrapadas e sujas
cheias de goteiras e as tábuas gastas
do poleiro chegavam a rasgar as calças.
Luzes escuras. Mas tinha uma hora em
que tudo brilhava, a gente esquecia o palhaço
sem graça, o equilibrista que caía
porque aparecia, sob a luz de dois faróis
fantásticos, a bailarina. A vitrola cheia
de chiados tocava o Bolero de Ravel que
nunca foi tão bem dançado por nenhuma
bailarina do mundo. Ela levitava, as
pernas de fora, rosas e rijas, um brilho
no olhar que dominava todos nós, patéticos
e deslumbrados com tanta beleza.
As mãos eram finas e brancas, o corpo
torneado pelo maiô e as sapatilhas nem
tocavam o chão, transformado em ouro
e brilhantes. Nem um pio na minúscula
platéia privilegiada. A gente nunca viu a
bailarina de dia. Um dia o circo foi embora
e não ficamos sabendo se ela cortava
cana, como todos os outros artistas.

Juvenil de Souza nunca cortou
cana. E nem gostaria de cortar.


Próxima crônica
Voltar à página anterior